terça-feira, 23 de junho de 2009

MEMORIAL DE LEITORA


Quando criança, lembro que meu pai reunia todos os filhos, éramos seis irmãos, para contar histórias bíblicas ao pé de sua cama. Depois rezávamos juntos e íamos dormir.
Minha professora da 1ª série, D. Neuza Alcântara, também adorava contar histórias, a minha favorita era Rapunzel. Eu era louca para aprender a ler , para poder reler a história de Rapunzel quantas vezes eu quisesse. E foi assim que eu me apaixonei pela leitura na minha infância, através das histórias bíblicas e contos de fada.
Eu sabia que quando eu aprendesse a ler, não precisaria mais ficar esperando pelo momento em que um adulto tivesse tempo para me contar as maravilhosas histórias que me faziam viajar por lugares e personagens, que existiam apenas na minha imaginação. Eu ganharia asas para voar quando e por onde as histórias me levassem.
Quando eu cursava o ginásio, hoje ensino fundamental, me apaixonei pelo livro “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo, e percebi que tinha uma queda por romances, li vários , mas o livro A Moreninha eu li três vezes. Também ganhei dois concursos de produção de texto a nível Municipal: um na 8ª série e outro no ensino médio , ocasião em que me encantei pelos poemas de Castro Alves, em particular “Navio Negreiro”. Mas não foi isso que me fez decidir pelo curso de letras. Aos dezessete anos, ainda cursando o ensino médio, me casei. Quando terminei o ensino médio prestei vestibular na UFES e passei, mas como eu já estava casada, meu marido não permitiu que eu fosse para Vitória estudar, então decidi fazer Letras na FAFI, porque gostava de ler, escrevia muito e era formada em inglês pelas escolas de idioma Number One e Fisk .
Porém, quando iniciei o curso de Letras Português/Inglês fui me apaixonando pela área em que atuo atualmente, Língua Portuguesa. Lá, encontrei profissionais maravilhosos que me ensinaram a analisar profundamente, nas entrelinhas, as obras que eu adorava ler. Perceber as intenções do autor escondidas por trás de palavras de aparência inocente. E , curiosamente, senti uma enorme vontade de reler o romance A Moreninha , livro que marcou minha adolescência. Me arrependi muito, porque aquela visão romântica e pueril se perdeu no meio da análise literária, e percebi que eu preferia ter guardado na memória os sentimentos que a obra despertou em mim enquanto adolescente. Mas também aprendi que por trás de todo texto tem as intenções do autor quando escreve , do leitor quando lê e do estudioso quando analisa a obra.
Hoje sou uma leitora assídua , apesar do pouco tempo que tenho, e como professora, incentivo meus alunos a lerem enquanto podem e ainda não são escravos do trabalho . Porque na vida adulta, não basta apenas gostar de ler, temos que associar o nosso gostar ao nosso tempo livre , e isso é frustrante.
Conto para os alunos trechos de histórias que li quando adolescente e também as que conheci no período da faculdade, que até hoje fazem parte dos meus sonhos românticos.Lugares que conheci só por causa das obras que li, como Paquetá, Parati... E de como a leitura me fez amadurecer como pessoa , me tornando mais crítica e seletiva em tudo que leio , falo e escrevo.

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